de profundis
primeiro foi o grito primordial
cem éguas saracoteiam
“sob as estremecidas estrelas”
ao bordão de uma guitarra
entre as coxas de cobre
e a acústica do vinho
na casa cinza estão os tantos
os mitos, arete
Caos, Gaya, Eros e Tártaro,
Érebo e Urano, Zeus e Cronos
ainda fascinados com o raio dos dedos
mas dormem para sempre nas nuvens da grande montanha os titãs
“gente com o coração na cabeça”
“e os que te seguiram pelas ruelas escuras”
nas torres negras dos edifícios brancos
canta um vento como sino
tocando bêbado com a unha
o vento amarelando o eco das ruas
destinadas a ser testemunhas mudas
e apenas vela empurrada a esmo pela proa
nave como o pó verde sobre o espelho verde
que se move
na torre branca dos edifícios negros
está o cara que fugiu
a lente nos olhos mirando a foice que o pariu
e os versos não escorrem na calçada
esguichado pela jugular
não se perde nada
“en la casa se defienden
de las estrellas”
Ares, derrotado novamente por Atena?
espiralando-se em vão as brumas pentagonais
sua voz na ilha deserta
seu pelo em praça pública
seu oco nos jornais
e o que dói
no entanto – quimeras são todos os dias
- o basalto do céu da cidade é chumbo
- fuligerme se procria no pó do medo
e o diabo é profundo
portanto, pode vir com velhas fotografias
no amarrotado jornal de ontem
já pus veneno na fonte
deletei a próxima aurora
desmaiei risos no horizonte
e furtei o agora